HISTÓRIA & MEMÓRIA: NOSSA MAUÁ ONTEM E HOJE
Mauá e o movimento estudantil: cultura, política e história da participação juvenil na vida da cidade
* Por Daniel Alcarria
Não é de hoje que o ABC paulista tem
desempenhado papel historicamente importante, seja como palco das lutas e
movimentos ou na formação de líderes, protagonistas das organizações populares
que marcaram e continuam a marcar época na história recente do Brasil. A
resistência à ditadura, as greves operárias do final dos anos 1970, as
passeatas estudantis, movimentos e categorias diversas dentre tantas outras
demonstram essa efetiva participação política dos povos da região.
Em Mauá não é diferente, pois
desde o início do século passado já eram registrados pelas bandas do ‘Pilar’
greves e movimentos organizados pelos jovens trabalhadores das pedreiras. Esse
protagonismo juvenil também impulsionou o surgimento de clubes, jornais, grupos
de teatro e do próprio movimento que culminou com a autonomia política de Mauá.
Em particular, o movimento estudantil também deu sua contribuição para a
construção desse histórico de combatividade que caracteriza a cidade.
Os primeiros movimentos e a UNIME
Depois das escolas itinerantes e mistas
do início do século passado, foi a então “Escola da Paineira” a principal
referência educacional da cidade. Ela foi denominada Grupo Escolar de Mauá a
partir de 1935, transformando-se em 1947 no Grupo Escolar Visconde de Mauá. A partir
dessa escola seriam registradas as primeiras manifestações estudantis do futuro
município.
Em 27 de maio de 1957 é fundado no
Visconde de Mauá o Grêmio Estudantil XI de Março, a primeira entidade
estudantil local. Apesar de ter suas atividades encerradas em 1960, vários de seus
membros do grêmio ajudaram na formação da União Municipal dos Estudantes de
Mauá, a UNIME, em 1964.
Precursora da UMES (União
Municipal dos Estudantes Secundaristas de Mauá, fundada em 1989), a UNIME (União
Municipal de Estudantes de Mauá) foi resultado da experiência do grêmio do
Visconde de Mauá e surgiu entre o final de 1963 e o início de 1964; a posse
oficial da 1º Diretoria se deu no dia 19 de fevereiro de 1964, na Câmara, tendo
Antonio Paulino Pinto Nazário como seu primeiro e único presidente. Com a
ditadura instalada a partir de 31 de malo de 1964, as entidades estudantis
sofreram profundo golpe e a UNIME, desativada.
Antes, em maio de 1963,
descontentes com o abandono que a escola sofria, estudantes do Visconde de Mauá
iniciaram protestos por sua reforma e ampliação. Em 26 de agosto de 1963
realizaram um grande protesto, com greve marcada para 02 de setembro,
resultando no ‘movimento paredista’. A greve e o próprio movimento em si
receberam a denominação de Movimento Paredista pelo desejo manifestado pelos
alunos em construir uma parede de bloqueio na entrada da escola para impedir a
entrada de pessoas no prédio.
Movimento estudantil pós-ditadura e o Fora Collor
A campanha das Diretas e os
processos que levaram à redemocratização do Brasil trouxeram novamente os
estudantes para a vida política nacional. Em Mauá, entre os anos de 1985 até
1989, surgiriam os primeiros grêmios de estudantes nas escolas estaduais, responsáveis
tempos depois pela reorganização do movimento estudantil mauaense.
Depois da UNIME em 1963/64, o
movimento estudantil reorganizou-se com a comissão pró-UMES em 1989. Em setembro
do ano seguinte, a União Municipal dos Estudantes Secundaristas é fundada
oficialmente com a realização de seu I Congresso nos dias 22 e 23 de setembro
de 1990. João Carlos Favaro foi eleito presidente. Passeatas contra a
municipalização do ensino e pelo passe livre ocorreram em diversas
oportunidades nos anos 1990.
Em 1991 e 1992 surgiria o
movimento dos ‘caras-pintadas’, culminando com o Impeachment de Collor. Os
estudantes de Mauá realizaram diversas manifestações pela derrocada de Collor e
a UMES local, responsável pela pioneira manifestação oficial em defesa do
impeachment registrada no Brasil. As passeatas pelo Impeachment escreveram
importantes páginas na história do movimento estudantil na região do ABC
paulista.
A cidade recebeu em junho de 1996
o Congresso de reconstrução da UPES, entidade estadual de representação
estudantil. Com apoio da prefeitura de Mauá e a presença de mais de mil e
quinhentos estudantes, a reconstrução da UPES foi símbolo e ápice da organização
do movimento estudantil secundarista na região do ABC paulista dos anos 90.
O movimento estudantil continuou
sendo responsável por mobilizações e lutas pelos anos seguintes. Temas como o
passe livre nos transportes, a meia entrada, a universalização do ensino e a
ampliação dos investimentos na educação entre outros mantiveram-se presentes no
quotidiano das entidades, com relativo grau de desmobilização somente
verificado na ultima década.
Como verificado ao longo do
processo histórico, as mobilizações estudantis provocam ou são provocadas por
situações diversas e muitas vezes, inusitadas das conjunturas pelas quais
atravessam as sociedades. A juventude estudantil por sua vez sempre será, em
qualquer tempo, elemento pulsante, construtor e ativamente atuante nos momentos
de efervescência social e contestação popular, estando na linha de frente de
suas e outras lutas.
(*) Jornalista e Historiador.
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